quinta-feira, 26 de junho de 2014

Olhar de lama

No meu âmago, em surpresa, faz-se
nos fundos silêncios, no bem encerrado,
e inundando tudo o que está enterrado,
este lago tremente que sem medo nasce.

Sob a calma do cerúleo céu
- podia reflectir o mais puro eu...
Emerge esta água num repente
brotando da terra, em nascente.

Em breve instante me sinto fluir
Em mim poisam brilhos de sol!
Sinto este calor de emergir
urgente, fugir deste atol!

Mas foi a nascente só um pensamento
breve, traiçoeiro e fugidio como o vento...
Esvai-se num suspiro a esperança vã,
fica a lama em meus olhos de avelã.

Porque a lama é o que jaz nos fundos.
Traiçoeira e indolente - águas turvas.
Mas fervilhando em ocultos mundos,
esperando, uma guardiã das chuvas.

Pois nós somos da cor do que fica
preso e enterrado e escondido!
Vejo ao longe a água que corre, arrisca...
Daqui guardo só o meu olhar perdido.

O meu olhar perdido, avelã, da cor da lama.


Armanda Andrade - 23.10.2009





Sem comentários :

Enviar um comentário