segunda-feira, 28 de julho de 2014

Festa de Haloween


          A mesa estava posta, a casa toda decorada. Na primeira, velas, velinhas em formas assustadoras espalhadas por entre as iguarias. Nos tectos e paredes, pululavam, entre balões negros e laranja, silhuetas em cartolina de figuras fantasmagóricas. Dei uma última olhadela em redor, satisfeita comigo própria, pois os meus convidados seriam recebidos como reis. Ou rainhas.

          Ou como feiticeiros, bruxas, múmias...

          Ei-los que chegam, a família Adams - a Mão ficou em casa de castigo -, Jack The Ripper, um assassinado ainda com a faca espetada no crânio, a Múmia enrolada em papel higiénico, o Zombie... De relance vi-me no espelho e sorri com o reflexo do meu aspecto de monstro surrealista: abominável!

          Perfeito.

          E as velinhas, dezenas de tealights espalhadas por todo o lado, emprestando o ansiado tom sobrenatural ao ambiente.

          Todos nos sentámos à mesa, abomináveis criaturas mas com boas maneiras e sorrisos brilhantes, comemos, bebemos, vozes de tertúlia animada, altas e entrelaçadas, palavras que se atropelavam sem contudo atrapalhar o trajecto dos talheres do prato para a boca e o ritmo dançante dos copos do vinho que ia aquecendo as gargantas. Só o meu cão, disfarçado de Lobo Mau, era o único que dormitava pacífico, até algo enfadado.

          Já era madrugada quando, no meio da animação das conversas soltas, descortino, atrás de uma amiga que se posicionara diante de mim, uma luz intensa, como que uma auréola... Já estava convencida da transformação divina quando, atrás de mim, uma voz tonitruou:

          FOGO!!!

          Abreviemos:

          A tal luz aureolada era afinal a chama de uma tealight em plena escalada de umas cortinas de linho!

          Foram gritos, foram correrias, foi um amigo que, na confusão, atirou o seu copo de whisky on the rocks para apagar as chamas... Eu disse apagar? As labaredas envolviam já a janela e a Costela de Adão, que se erguia orgulhosa e pujante até ao tecto, iluminava-se de fogo, as minhas cortinas de linho desapareciam na língua devoradora do fogo. E começaram a rebentar, por efeito do calor que irradiava, todos os balões suspensos que eu colara ao tecto. Qual metralhadora sincopada, qual fogo de artifício sinistro...

          Lembro-me dos vai-véns dos meus convivas, jarras de água lançadas pelo ar, as chamas a rirem-se do nosso pânico, de alguém a gritar-me "parece impossível, nem a malga do cão tem água!"... Aí reagi, corri para a cozinha, arrematei um garrafão cheio de água do Luso, voo de volta para a sala, passo por alguém que pisava a ponta do vestido da matriarca da Família Adams, e pláaaaaaash, foi uma cortina de água a engolir a moldura de fogo!

          Água pura, do Luso, garrafão de cinco litros!...

          Eu cá sou assim: quando dou uma festa, é mesmo a sério! Esta, foi a de Halloween.

          Para a próxima, estou a pensar fazer um jantar árabe. Estou apenas à espera da resposta do Bin Laden, que será o convidado de honra. Essa será bombástica!


                            Armanda Andrade - Setembro de 2010


       

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Abstracto




E assim se evola no abstracto
Um dia mais, sem substrato.


Lentos os minutos, correm as horas!
Aqui, no lugar onde moras
paira o silêncio do relógio parado.
Há muito que partiu o riso animado...


Se eu pudesse a minha mente aquietar
como jazem os objectos sem alma!
Se eu pudesse nunca mais lembrar
os tempos fugidos, a perdida calma,
poderia regressar à inocência
de acreditar, ainda, na essência
dum espírito benigno da vida.
Mas, não há regresso dessa ida.


O passado já não existe.
O que eu fui, já não persiste.


Fosse assim com as memórias
e passariam as horas, devagar,
construindo novas histórias
que valesse a pena lembrar.


As memórias trazem o regresso do tempo
- a vida não é senão um passatempo.
Coisas dispersas que voltam e assombram
coisas que rejeitam o esquecimento
tão implacáveis como lá fora o vento
que ruge em todas as direcções
desnorteado, danado; raios que vislumbram
e despedaçam todas as nossas orações.


Veio noite de violenta tempestade:
é o que resta, deste dia sem saudade.


Talvez, em breve num sono mais puro
eu consiga agarrar um pouco de futuro...


Armanda Andrade - 24.07.2014

terça-feira, 22 de julho de 2014

ENFP:-) Meu tipo de personalidade e temperamento...


(Aproximadamente 6—7% da população) ENFPs são cheios de entusiasmo e novas ideias. Optimistas, expontâneos, criativos e confiantes, têm uma mente original e um forte sentido do possível. Para um ENFP, a vida é um drama excitante.

Porque estão tão interessados nas possibilidades, ENFPs vêem sentido em todas as coisas e preferem manter muitas opções abertas. Eles são perceptivos e observadores perspicazes que notam qualquer coisa fora do comum. ENFPs são curiosos; eles preferem entender em vez de julgar.

Imaginativos, adaptáveis e alertas, ENFPs valorizam a inspiração acima de tudo e são com frequência inventores engenhosos. Por vezes são inconformistas, e são bons em ver novas maneiras de fazer as coisas. ENFPs abrem novos caminhos para o pensamento e a acção. Ao implementar as suas idéias inovadoras, ENFPs confiam na sua energia impulsiva. Eles têm muita iniciativa e encaram os problemas como desafios estimulantes.Também obtêm uma infusão de energia estando juntos das outras pessoas e podem combinar com sucesso os seus talentos com as forças dos outros.

ENFPs são encantadores e cheios de vitalidade. Tratam as pessoas com simpatia, gentileza, calor e estão prontos a ajudar qualquer um com um problema. Podem ser marcadamente compreensivos e empáticos, e com frequência se importam com o desenvolvimento dos outros. ENFPs evitam conflito e preferem harmonia. Eles colocam mais energia em manter relacionamentos pessoais do que em manter objectos, e gostam de manter uma grande variedade de relacionamentos vivos.

Possíveis Aspectos Negativos

Uma vez que acham tão fácil gerar idéias, ENFPs têm dificuldade em concentrar-se em apenas uma coisa de cada vez e podem ter problemas em tomar decisões. Eles vêem tantas possibilidades que têm dificuldade em selecionar a melhor atividade ou interesse para seguir. Algumas vezes fazem escolhas de que se arrependem ou envolvem-se em muitas actividades simultaneamente. Escolher cuidadosamente onde concentrar a sua energia ajudará os ENFPs a evitar consumir o seu tempo e a dissipar os seus consideráveis talentos.

Para um ENFP, a parte divertida de um projeto é a solução inicial de um problema e a criação de algo novo. Eles gostam de exercitar a sua inspiração nas partes importantes e desafiadoras de um problema. Depois desse estágio, com frequência perdem o interesse e carecem da auto disciplina necessária para completar o que iniciaram. É provável que comecem muitos projectos mas concluam poucos. ENFPs produzem mais resultados quando concluem as partes entediantes, mas necessárias, de um projecto, até que este esteja completo. Anotar em papel factos ou etapas poderá ajudá-los a evitar que se distraiam.

Com frequência, ENFPs não são particularmente bem organizados. Eles podem beneficiar em aprender e aplicar uma boa gerência do tempo, desenvolver as capacidades de organização pessoais.  Eles lucram quando juntam forças com outras pessoas mais práticas e realistas. Isso normalmente combina bem com eles de qualquer forma, uma vez que ENFPs não gostam de trabalhar só, especialmente por períodos extensos de tempo. Eles acham que trabalhar com outra pessoa, mesmo em fases menos interessantes de um projecto, é preferível a trabalhar só.

ENFPs não são tão interessados em pormenores. Uma vez que eles são mais entusiastas em usar a sua imaginação e em criar alguma coisa original, eles podem não se incomodar em recolher toda a informação que necessitam de forma a executar uma actividade particular. Algumas vezes eles apenas improvisam no momento, em vez de planear e preparar antecipadamente. Porque acham que a recolha de informação é aborrecida, ENFPs correm o risco de nunca passarem do estágio da "idéia brilhante" ou, uma vez que tenham começado, nunca terminarem. Sempre inquietos, eles prefeririam não ter que lidar com pormenores cansativos mas deslocarem-se para alguma outra coisa nova ou incomum. ENFPs são mais efectivos quando conscientemente observam o mundo à sua volta e recolhem impressões mais objectivas, tornando assim suas inovações aplicáveis. 


Para mais: http://sites.mpc.com.br/negreiros/enfp.html

The Science of Color in Fashion | SciTech Connect

The Science of Color in Fashion | SciTech Connect

terça-feira, 15 de julho de 2014

Qual de vós se parece mais comigo?

                                                                                                          Picasso Gordow de Mazagatos e Omni's


Lobos irmãos da minha fome

parceiros da mesma festa
que nos cimérios antros da floresta
uivais o vosso nome;
árvores minhas irmãs minhas amigas
que altaneiras vos ergueis no verde mar
maternalmente sussurrais vossas cantigas
agitando vossos braços de embalar
berços de sonhos;
aves que trinais vossos gorgeios
desflorando as brácteas e partejando a flor
despertando anseios
no mês de abril acordando o amor;
insectos que zumbis vossa lascívia
camuflados nos recessos do arvoredo
ressuscitando ao sol do meio dia
e à noite vos entocais de medo;
população da floresta poligâmica, habitantes
de um mundo essencial, inexpletivo,
para o equilíbrio necessário do ser vivo
harmoniosamente nem carentes nem sobrantes,
qual de vos se parece mais comigo?

(João Marcos, meu Pai, poeta limiano) 

Quarto minguante



Está baixa hoje, a lua,

nesta quente noite de Junho.
Amarelo esbatido desmaiado na rua
nesta noite em que definho.

A madrugada silenciosa avança...
Céu lúgubre de desencanto.
Vai-se em murmúrios a esperança
e as ilusões, em sufocado canto:

          de versos não rimados
          de rimas desencontradas,
          de promessas anuladas...

Longa noite de lua vazia
tantas  longas noites depois!
-é um fio de lua que me estrangula o grito.
Despe-me do sentir, numa razia,
dilui-se comigo na escuridão;
disfarça-a, tomando-a como só sua.
Um esquisso de querer: Lua
desfalecida, leva-me contigo pela mão!
Eleva-me para longe desta desolada rua!
(Mas ela deita-se surda e indiferente
altiva e muda num horizonte aflito).
Ah, que noite imensa e tão quente!
Cobre-me o manto frio do desespero
limado, resignado: já nada espero.

É como acaba esta história:
festejam as trevas a vitória.

Definha lá fora a minguante lua
e cá dentro, minguam as memórias
daquele tempo em que eu era tua.

Cortante, no escuro silêncio, o grito dum mocho,
e alguns cães ladram nervosos à lua moribunda.
Mas agora, todavia, já não os oiço:
a minha alma dorme em morte profunda.

E o arco descendente desta lua fina
assombra sozinha a madrugada escura.
Nenhum sentimento mais me domina:
ao novo dia, fingirei de novo a liberdade pura.



Armanda Andrade - Junho de 2012

domingo, 13 de julho de 2014

Dizem que é para meu bem...



Dizem que é para meu bem que me governam; ora, como dou o meu dinheiro para ser governado, depreende-se que é para meu bem que o dou, o que é possível, mas que merece, contudo, ser verificado.

Além de, por outro lado, ninguém poder conhecer melhor que eu, as coisas que me fazem feliz, penso que é estranho, incompreensível, anti-natural, extra-humano, devotarem-se à felicidade de pessoas que não conhecem; e eu declaro que não tenho a honra de ser conhecido pelos homens que me governam...
É justo dizer desde já, no meu ponto de vista que eles são verdadeiramente bons e, enfim, um pouco indiscretos por se preocuparem com a minha felicidade e principalmente, porque não está provado que eu não seja capaz de a conseguir eu mesmo.

Mais afirmo que a devoção implica o desinteresse, e que os cuidados oficiais não têm o direito de ser incómodos senão com a condição de nada custarem...
Eu sou demasiadamente bem educado para discutir aqui uma questão de dinheiro e guarde-me Deus de pôr em causa a devoção e por outro lado o desinteresse dos nossos homens de Estado. Contudo, peço autorização para aguardar e lhes poder exprimir a minha gratidão, desejando ao mesmo tempo que as delicadas atenções com que se dignam envolver-me sejam mais baratas.


Toulouse, 1848

Anselme Bellegarrigue

sábado, 12 de julho de 2014

Névoa matinal


Na fria neblina matinal surgiste
envolto em manto de pálido azul
diáfano como as asas dos anjos;
nelas, a memória de quando partiste.
Acordou a natureza com ansejos
e soprou uma brisa do lado sul.
E era uma memória triste...


Na doce corrente daquele rio
na nascente dum dia sem brio,
refugiada naquele pequeno barco
me fui deixando, devagarinho,
sob emaranhadas ramadas em arco
de árvores esquecidas nas margens
- que a brisa agitava de mansinho -,
enlevar com a carícia das aragens.


Abalando para outras paragens...


Seguia-me a sombra da névoa
(ou era eu que nela submergia?)
E a tua memória num pássaro que voa
bem lesto roçando o que se não via,
abala a quietude daquele lugar
sem qualquer intenção de poisar.
E eu, suspensa nesse amargar.


Era bem cedo nessa manhã
quando me deparei com o teu manto
disfarçado de neblina prateada.
Apanhada de novo na manha
das memórias sombrias de pranto
desta vida desalojada de encanto
neste rio de água parada,
neste limbo de névoa magoada.


E neste barco sem destino...


Armanda Andrade - 12.07.2014

A lucidez - Parte II



Por mais intenso que seja o prazer

ao passar em cada ponto da caminhada
eu nunca deixo de ter
a visão lúcida do fim da estrada.
É a lucidez que me leva a desejar
a ultrapassagem vivencial
de cada um destes pontos, 
e também ela que me faz recear
a chegada ao ponto final.
É que a luz brilhante
que ilumina a estrada de ponta a ponta
se apaga num instante
e no términus da estrada
só a escuridão é que conta, 
para além não se vê mais nada
a não ser um esqueleto
apodrecendo no fundo de uma cova.
Ah! se eu não visse este esqueleto
nem esta podridão,
como a semente que se renova
não sabe que um bico de ave
pode ser o seu caixão
como o rio que não sabe
que hora a hora morre no mar
como o verme, como a planta
como o roble secular
que no bosque se agiganta
não sabem eles que um dia
também irão acabar...
mas a lucidez denuncia 
a este animal que pensa
que tudo o que possa pensar
fora da sua ilusão
para além do esqueleto
não passa de adivinhação!
Porque animal que passeia
só vê os passos que dá
porque a roseira nem vê
as lindas rosas que dá
não sabe a lua se é cheia
se é quarto ou se é lua nova
só este animal se vê
apodrecendo de véspera
no fundo da sua cova
da cova que traz com ele
ao nascer...

Tudo o que nasce no mundo
traz consigo a sua morte
sem saber...
Sem saber é melhor sorte
do que ser lúcido, e ver
que não saímos do mundo
mesmo depois de morrer
e que o desejo exclusivo
de vivermos noutra vida
- tortura de morrer vivo -
é sonho, letra a pagar
é tributo que pagamos
ao castigo de sonhar
à tortura de morrer
- tortura de morrer vivo -
ao suplício de viver
à tragédia de saber.


João Marcos, in "O Ser e o Nada",  SOL XXI Poesia,  1996

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A lucidez - Parte I


capa de Armanda Andrade


Não é a juba ou a cabeça majestática do leão que torturam a minha figura humilde; não é o seu olhar sobranceiro que rouba o orgulho dos meus olhos nem a altivez do seu porte que me torna cabisbaixo. Não é o peso do elefante que abate a minha pequenez nem as patas enchendo de carimbos a terra que eu piso que me impedem de caminhar.


Não é o roble secular que se eleva na montanha que me faz sentir o efémero por viver mais do que eu. Não são as neves do Himalaia que gelam o meu desejo de eternidade e me tornam infeliz... Se ao menos Deus me tivesse dado este sonho de eternidade, mas não me exigisse a realidade da prova!...

O que me tortura é a minha lucidez. Ela é o meu castigo, a minha tragédia. Ela abafa todos os meus sonhos, é a minha ilusão de viver. É a luz intermitente que me faz avançar mas que para sempre me deterá no sinal vermelho.

É a lucidez que me põe abaixo do leão, porque, se para mim ele é a majestade, para si é apenas leão. E o elefante não sabe se é mais pesado ou mais leve que a espuma do mar, sou eu que os ponho no prato da balança. Nem a árvore secular tem consciência do nascer e do morrer, ela não sabe contar a idade. É a lucidez que gela o meu pensamento e me traz a imagem da morte. Sim, invejo o elefante, o leão, a árvore, a Sibéria gelada, invejo tudo aquilo que não morre porque não conhece a morte. Invejo todo aquele que não precisa de se drogar para morrer inconsciente!

Sou apenas uma linha de pontos efémeros - mais curta ou mais comprida, mas sempre a terminar num precipício fatal.

(João Marcos, lúcido até ao fim - in "O Ser e o Nada", SOL XXI, 1997)

Nota: A capa foi-me roubada, em autoria e fisicamente, pelo sr. Pedro Massano, responsável pela fotocomposição e execução gráfica.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O céu abriu-se em catadupas de água



O céu abriu-se em catadupas de água

soltou-se o vento em golpes de rajada
a castigar a flora adulta -
oh! como os seres inocentes
sentem esta violência dos agentes insensíveis!
o ginasticar convulsivo
das macieiras novinhas
o aborrido entediar
do cativeiro doméstico!

As verduras abençoam

enquanto melam as rosas -
oh! a fatal sinergia
da gratuitidade sensível
e do insensível necessário!

Tantas nuvens em cachão
sobre as terras alagadas
tantos vazios de nuvem
a rebentar de saudades
no deserto da minha alma!


João Marcos, meu Pai, poeta limiano - in "Meu Verde Minho" Edição Sol XXI, 1997

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Lágrimas de sangue



Lágrimas de sangue não se vêem.
É por isso que eu choro lágrimas de sangue.
Na calada da noite, no lamento dos mochos
e quando bem ao longe, no horizonte,
ameaça a nova aurora, de esperança já exangue,
jorra o silêncio como num sorriso comediante.
Como sempre, nada de importante...
Pedaços de alma que já nada retêm.

Pássaros madrugadores saem dos seus nichos;
endireitam-se as pequenas flores silvestres.
A vida acorda com todo o vigor que têm
as coisas sem consciência dos mantos terrestres.

Nenhum espírito da natureza adivinha
as lágrimas de sangue desta dor tão minha.
Sangue escuro que se arrasta nas veias
em vasos emaranhados em tantas teias...!

Sou mais um vulto numa esterna escuridão
do mundo humano, tão falho de redenção.
É por isso que choro lágrimas de sangue,
abafadas e escondidas no meu peito
 - ninguém as vê, neste buraco de dor feito.
À minha volta tudo é dor e desespero,
gritos roucos abafados na almofada do leito,
assassinadas foram todas as ânsias do coração.

É por isso que choro lágrimas de sangue
Que escondem os últimos estertores
de um mecânico mecanismo de pulsão
de vida, sem que a vida se revolte e se zangue.
Grito lancinante carregado de tantas dores
lançado em flecha deste malfadado coração,
coração escondido e de todos oculto
pálido de cor, tornado sombrio vulto.

Todo o silêncio do mundo
encerra o grito mais profundo!

Sou só eu e as minhas lágrimas de sangue.

Armanda Andrade - 07.07.2014

domingo, 6 de julho de 2014

Lenços de namorados




1.
Fui há praia para te ver

Fiqei a xeirar a mar
Mê Amor tenho qe ceder
Nem banho hei-da tomar!

2.
Esprei uma vida
Para te incontrar
Tu és tãu querida
És o sol a rraiar!

3.
Este lenço não é d'açoar
Bordoei-o para ti,
Mê Amor vai-lo já a gardar
É o mai lindo qu'eu vi.

4.
Sou a Princeza Incantada
Tu és o Prínssipe ardente!
Eu tou já mui bem acordada,
Vem é dar-m'um beijo valente!

5.
Nas azas d'uma gaivota
Fui ver se t'avia no mar
Foi o barco e não volta,
Ai canto teréi d'esperar!

6.
Tu curaste-me da constipaçón!
Aline, és uma queridinha!
Ficas-me bem dentro do coraçón,
Ai Deus, já tenho ua madrinha!

7.
Mê Amor dou-t'o mê curação
Vê lá guarda-lo mui bem!
Enquanto faço um'óração
Ao Mnino Jesus de Belém!

8.
Or' Aline, não precizas
de ajuda para quadrar
Todas as rimas já tinhas
dentro de ti pa encontrar!

9.
Sou como a folha au vento,
só preciso de pouzar
na festa do mê cazamento
cóntigo, pra namorar!

10.
Todas as mias quadras son
originais, já se vê!
Digo alto c'o coraçón,
Mais, só qem quiser me lê!

Estes versos que te dei
em boas mãos ficarón
Se te vais eu voltarei
com amor no curaçón.

11.
E daqui eu me arredo
caladinha com sserteza:
Já não tenho mais enredo,
não sou rival da belesa...

Que estes poetas eu cei,

que agora aparesseram,
Ção da poesia que dei
superiores, e prosperam!

E açim me retiro
com um noiturno adeus...
Bou num breve çuspiro
Bou acarinhar os meus!

Nota: os erros são propositados, como manda a tradiçón... 

Armanda Andrade - (2009)

sábado, 5 de julho de 2014

Ao morrer o dia

Da janela vejo as coisas sorrateiras 
sorrateiras afastarem-se de mim 
pouco a pouco. 
Vou com elas. Assustadas e ligeiras 
duas pombas. Voo cego. Voo louco. 
Breve fim. 
Cada qual para seu lado 
vou com elas. 
Inquietas. Voo cego. Atrasado 
(também me afasto de mim). 
Pouco a pouco morre a luz - a sombra nasce. 
Novo fim. O começo dia a dia 
(de tristeza? de alegria?) 
Em cada dia a vida morre e a morte faz-se. 

Da janela 
vejo as coisas afastarem-ME de mim. 
Não sou nada. Não sou começo nem fim. 
Talvez apenas um traço 
talvez apenas um zero no zero de cada dia 
(nem sequer um risco baço 
de tristeza ou de alegria).


(João Marcos, in "Versos do Fim do Dia" - Edições Ceres)
September tears

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Há alturas...


Há alturas em que as noites surgem de repente e de repente ficam longas como se parassem o tempo e não houvesse mais nada. São espaços congelados...

Fico parada nesse tempo no meio dum silêncio atroante, aquele silêncio feito de gritos abafados, de coração encarcerado bem lá no âmago de mim, fecho os olhos, se eu não vir ninguém me verá... quero desaparecer nesse negro da noite, nesse manto de sombra, nessa sombra de Moloch que parece por vezes cobrir o mundo inteiro.

Estou farta de nadas, estou cheia de ausências, vazia de mortes. O silêncio que me esconde cola-se a mim, é a malha de aço, o esconderijo do lá-fora onde a luz do sol tem a cor de sangue.

Sinto a nostalgia dos espaços infinitos, do tempo em que eu não existia, do tempo em que pairava no escuro sideral como um grão da poeira de estrelas, fazia frio mas eu não sentia, e não sentia porque não sabia sequer que não existia...

São alturas suspensas, momentos não vividos, ilusão de quietude, uma paz maldita no fundo do desconhecido.

É a noite da alma, uma noite calada, prolongada, tanta noite!

Há alturas nas noites em que somos transportados para os espaços infinitos. São espaços presos numa eternidade temporária... 

E, quando vem a manhã, a gente finge que foi só sonho...

Armanda Andrade -  25.04.2010

"A vida é a eternidade que se manifesta em nós temporariamente ." (João Marcos - 25.04.1913 - 06.01.2005)

Adivinha do mentiroso


Aqui jaz morto
Um eterno mentiroso
Em longínquo porto
Morreu tuberculoso.

Qual é ela, qual é ela,
que de dia é redonda
e à noite faz a ronda?


Armanda Andrade (1985)

Ma Vie

Desenrolei a minha vida numa tira de cinema imaginário. Desenrolei-a frente ao espelho. O reflexo devolveu-ma invertida. E então vi-me normal, tranquila, sossegada. Afastei-me satisfeita, guardando a minha vida no bolso. Atrás de mim, os demoniozinhos da imaginação riram-se à sucapa...

Armanda Andrade (1984)

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Nunca te chorei...

copyright Armanda Andrade
Todos os dias te recordo. Sempre que reentro em Lisboa, atravessando a 25 de Abril, o meu olhar dirige-se para o lugar onde vivi desde que nasci até à juventude, uma vida, e onde depois moravas com o meu Pai, e depois sozinha, tantas vidas diferentes numa só, a tua, e agora esta, a que vive dentro de mim...
 
E tenho dificuldade em perceber que já lá não estás!


Anteontem dediquei-te toda a minha memória, foi sábado, foi dia 22, foi ao meio dia e vinte minutos, faz agora dois anos e parece que foi ontem, que é hoje, e choveu nesse dia como choveu no dia em que partiste!

Como ainda chove no meu coração, todas as vezes que te lembro, todos os dias, mesmo sabendo que o não quererias e que te partiria o coração se soubesses a falta que me fazes. Partir-se-ia o teu coração por não poderes acudir-me, se o soubesses. Porque estavas sempre, sempre, precisasse eu ou não, discreta, atenta, o maior carinho do mundo, a maior generosidade, sempre tão cândida e meiga, mesmo quando rias e brincavas no teu humor impagável, subtil. Inteligente, prazenteiro. 

Fazias anos no dia 1 de Abril e sempre te pregávamos uma mentira, em que tu placidamente acreditavas, ou a sério ou para nos fazeres a vontade. Partiste tão pouco tempo antes do teu aniversário, apesar de te suplicar que estivesses cá para ouvir a minha mentirinha, aquela que eu já estava a preparar enquanto teimavas no coma. Sei que resististe o tempo necessário para te despedires, e que até tentaste abrir os olhos quando, estavas já em agonia, te supliquei que os abrisses mais uma única vez. Pestanejaram os teus olhos, sei que me ouviste. Mas estavas demasiado fraca, desculpa-me ter-te obrigado a esse esforço.

Este ano vou preparar uma mentirinha para ti. No dia 1 de Abril, contar-ta-ei dentro de mim. E dentro de mim ouvirei a tua voz e o teu riso, como dantes. E não choverá, como no dia em que partiste. Mas não garanto que não volte a chover no meu coração...
- Escrevi este desabafo em 2008, dois anos depois de teres aceite voltar para o pó de estrelas, ou para junto dos anjos, em que acreditavas. Decerto te acolheram como um deles! Espero que o Pai não tenha resmungado que demoraste, ele odiava esperar... (mas tu nunca te atrasavas mais do que o imprescindível para manter a aura de diva)...
Não tenho mais palavras para acrescentar, só sei que nunca te chorei, Mãe, porque pressinto que, se começar, não conseguirei acabar, se começar, poderei enlouquecer. 


(E agora, em 2014, há algum tempo, distraí-me e senti os meus olhos ocultos atrás de um espelho rugoso de água... E a chuva atingiu a minha noite num forte aguaceiro. Agora, passados 8 anos, quando descobri que certa chuva é como lâminas fininhas e gélidas a trespassarem-nos a alma. E que neste coração exangue se agita, por vezes e de repente, um lago de lama...)

Armanda Andrade - 01.04.2010 / 03.07.2014
Nos momentos mais difíceis... sabe bem ouvir esta música! Hoje estava a precisar. Se acredito...? Não interessa, let's hear:
Somewhere over the rainbow

Queria ser ave...


Leva-me contigo, Loucura, mas assim de repente e sem demoras e completamente. Promete-me que assim eu esqueço, e não sinto e não peno, devolve-me a insensibilidade, arrasa da memória todo o engonho e sentimento!

Amar é ilusão e eu quero a devolução da minha lucidez. Quero a verdade e não o cativeiro para onde nos atiram se amamos,

Pois o Amor é a risada de Cupido, é o castigo de Sísifo de quem se revela. Cupido é traquinas, a sua flecha é armadilha e empestada de veneno, a flecha que nos trespassa trazendo a ilusão e logo nos atraiçoa, um delírio que não é mais que um desejo pueril destinado aos cândidos e aos incautos.

Este mundo é desilusão, humilhação, vergonha, a libertação só a proporciona a Loucura, venha ela que rebenta com as grilhetas, concede a evasão da subordinação!

Queria ser ave, daquelas migratórias, mas ave não sou 
e deste mundo não posso voar.

Não existe, não há deus, eis-nos pois por nossa conta. Milagres? Assistem apenas aos simples. São os que não se debatem que conseguem ser felizes. Mas, quem inveja uma felicidade assim?

Vem, Loucura, devolve-me ao meu retiro, abrigo contra donos ou senhores, ou a tal pretendentes.

O homem é ser territorial e a mulher, no devaneio deste, é o reflexo da sua "honra" - palavrão que encarna aquele conceito pelo homem tão apreciado e cujas leis foram elaboradas numa lógica de interesses e conveniências próprias do grupo.

Mas a única honra é a minha autenticidade e reside na minha consciência e na minha alma. Nesta minha imperfeição, tosco barro em que me vou vendo sendo esculpida, no meu direito a errar e no meu direito a aprender, por mim, ao meu ritmo e capacidade! No meu fado, de todos feito semblante comum, de percorrer os caminhos da condição humana. Sempre distante das expectativas, tantas vezes em esperanças inconsequentes. tantas outras em quereres infantis. Ninguém pode roubar o que sou, se eu quiser ser o que sou. Não quero. Não deixo. Aceitem... Ou respeitem a minha demanda de paz. Quero o meu espaço desinfectado. Quero longe essas vossas mentes em constante busca de uma qualquer falha que se sentem, só vocês, no direito de julgar. E falhas não faltam!... Errare humanum est! Mas julgam, ah, como julgam!

Apartam pois, de mim, esse limitador pernóstico!
Se o não conseguirem... temos pena.
Mas não muita: retornando a mim e ao meu jardim, eu não estarei já cá.


Permanece sempre em nós a criança que fomos, mesmo julgando-a abandonada. Pois a criança dentro de mim grita por consolo e por mimo, já que tão castigada já foi! E a minha criança queria ser ave...


Loucura, traz-me a Paz que eu perdi...


Armanda Andrade -  29.03.2010

terça-feira, 1 de julho de 2014

Esboço de Guião para novela pimba


O Pedido de Casamento


(A cena passa-se num restaurante acolhedor e requintado, aberto fora de horas; a luz é suave e os empregados movem-se silenciosa e discretamente, porém sempre solícitos. Apenas outro casal marca presença numa mesa afastada, ocupado numa conversa rotineira, amistosa mas banal. Uma música suave ecoa coleante pelo ambiente, um adocicado jazz convidando ao conforto e ao romance tranquilo. Perto, o crepitar lânguido do fogareiro do restaurante embala toda a sala no calor e no recolhimento que faz esquecer a chuva torrencial do exterior, expulsando a fúria da natureza e reduzindo-a a um som difuso e incoerente, chuva e relâmpagos de filme de terror tornados anódinos para lá das fronteiras daquele abrigo, a revolta fustigando inconsequente as vidraças do edifício.)

O casal protagonista acaba de se instalar numa mesa longe das janelas, num espaço recatado. Sempre cavalheiro, o homem espera a mulher sentar-se e rodeia-a de atenções. Escolhem a ementa, o vinho, começa a conversa, fazem um brinde, festejam o aniversário de quando se conheceram.

A conversa recai realmente sobre isso e ambos aproveitam para admitir que, havendo embora os problemas ocasionais, foram todavia feitos um para o outro. Ele é o Príncipe dela e ela é a sua Rainha. Olham-se nos olhos. A música (ou o amor?) inebria-os, ou será apenas o vinho?


São servidas as entradas, ocasião para mais um brinde, sorrisos e risos, memórias partilhadas... alguns assuntos mal resolvidos, tentativa de conversar e resolver o que ficou por dizer. Porque, disse-lhe ele uma vez, “nada deve ficar por dizer”. Foram feitos planos, foram feitas juras, foram feitas promessas... Sem o notar, ela roda distraidamente o seu anel de noivado, um gesto que se tornou um tique desde que ele lho ofereceu, no calor da paixão do primeiro ano.

Num relance ele nota esse gesto. Sabe que é um gesto de dúvida e de desconforto. Sim, já foi há algum tempo que ele lho ofereceu. Já foi há algum tempo que ela disse que sim. Depois a vida intrometeu-se e outras prioridades surgiram... Depois ela disse que não, mas nessa altura também ele já não tocava no assunto.

A sua Rainha está triste, pensa o Príncipe, triste e desiludida. Duvida da sua palavra, das suas intenções, pior, da sua sinceridade. É algo que ele não pode sustentar, ensinaram-lhe a honra e a importância da palavra dada. Num ímpeto agarra as mãos da sua Rainha e, de olhos húmidos, declara-lhe a sua adoração eterna e incorrupta, esqueçam-se mágoas e pormenores mais desagradáveis! “Queres casar comigo? Casamos já amanhã, se quiseres, juro-te, vamos casar já amanhã!”

A Rainha descobre-se presa nas mãos dele, surpresa pelo ardor que já quase esquecera, balbucia “mas como?”, ele responde, sempre de olhos dentro dela, “vamos ao registo, só precisamos de testemunhas!”... Ela hesita, faz um esboço em libertar as mãos, ele agarra-as com firmeza: “Sim ou Não?”

Ela abre a boca, viu de repente de novo o seu Príncipe, vai dizer que Sim. O momento pára, a música suspende-se, a penumbra invade tudo o que não seja o seu campo de visão, aqueles olhos húmidos e vermelhos que a possuem, afinal está tudo bem, ele ama-a, é apenas homem e os homens têm tendência para promessas e para esquecê-las...Vai dizer que sim e por isso entreabre os lábios, brilham-lhe de certeza os olhos!

E de repente, ela sente as mãos soltas, ouve-se de novo a música de fundo, acabou a gravação de jazz e paira agora algo de indefinível, o ruído de fundo é o de um restaurante entretanto mais cheio e até a chuva lá fora calou de repente o seu ímpeto. Foi num segundo de desconcerto que ela reparou que ele a largou, está a olhar para trás para chamar o empregado, “queres mais vinho?”, o sim dela acaba por se destinar ao vinho, sim, quer o vinho, quer beber mais, quer a ilusão do inebriamento que se diluiu no momento interrompido e para sempre perdido,

A conversa continuou, fluida e previsível, coisas que se disseram, coisas que não se disseram (e que são sempre o mais importante numa conversa, aquilo que se cala...), mais tarde ela alegou vagamente que um casamento devia ser uma festa, uma celebração, ele olhou-a de repente como um estranho, o pragmático, “para quê gastar dinheiro em coisas supérfluas, o importante é estarmos juntos”, a mulher retorquiu que então “se isso já acontece, para quê então casar...?”


O jantar acabou, o regresso a casa foi mais silencioso, ela rodava o anel no dedo, chegou a casa e arrumou-o, jurou em silêncio nunca mais o usar, e nessa noite, quando se deitaram, a Rainha tinha a seu lado não o Príncipe, mas o Sapo. Mas também não fazia mal, ela Rainha também já não era...



Armanda Andrade - 11.03.2010

O Silêncio

Encontra-me logo ó Morte!
Já estou vazia por dentro.
Eu aceito a minha sorte;
desejo-a, sem um lamento!

Mas aviso-te: sê rápida!
Faz bem o teu trabalho!
Nada de hesitação apática,
está já lançado este baralho!

Dá-me o chão bem lá no fundo,
debaixo daquelas folhas já murchas.
Quero o silêncio, o mais profundo,
descerei contente ao lugar das bruxas.

Quanto mais fundo mais longe,
pois anseio o esquecimento eterno!
Não chore por mim o falso monge,
ninguém finja que o que sente é terno!

Sou órfã de quem já me amou...
Estou presa no tempo que parou.
Quero a terra, ali, a mais funda
e dormirei na cova, já moribunda.


Ou vaguearei pelo nada, como eterna vagabunda...


Armanda Andrade - 24.10.2009

Que aconteceu?



Meu amor, vem-me buscar!
Porém, não sei onde estou.
Vejo-me estranha neste lugar
e longe de quem me amou.

Sei todavia que não virás...
se nem eu sei onde estou!
Na minha lembrança estarás...
no meu desespero, tudo parou...

Lembro-me daquele tempo de riso
e das flores e da areia e do calor...
Havia um mar de verde tão liso,
por cima o céu azul cheio de ardor!

Que aconteceu? Que aconteceu?
Partiu-se o mundo em dois?!
Já não tenho o que era meu!
E que há para viver, há um depois?

Vem buscar-me agora, Amor,
Tânatos sejas, ferro da Morte.
Fere-me toda esta lança de dor,
leva-me contigo, ao frio norte!

Sou tão fácil de encontrar, meu querido...
Sou a que jaz na areia, no fundo perdido...


Armanda Andrade - 24.10.2009