sábado, 12 de julho de 2014

Névoa matinal


Na fria neblina matinal surgiste
envolto em manto de pálido azul
diáfano como as asas dos anjos;
nelas, a memória de quando partiste.
Acordou a natureza com ansejos
e soprou uma brisa do lado sul.
E era uma memória triste...


Na doce corrente daquele rio
na nascente dum dia sem brio,
refugiada naquele pequeno barco
me fui deixando, devagarinho,
sob emaranhadas ramadas em arco
de árvores esquecidas nas margens
- que a brisa agitava de mansinho -,
enlevar com a carícia das aragens.


Abalando para outras paragens...


Seguia-me a sombra da névoa
(ou era eu que nela submergia?)
E a tua memória num pássaro que voa
bem lesto roçando o que se não via,
abala a quietude daquele lugar
sem qualquer intenção de poisar.
E eu, suspensa nesse amargar.


Era bem cedo nessa manhã
quando me deparei com o teu manto
disfarçado de neblina prateada.
Apanhada de novo na manha
das memórias sombrias de pranto
desta vida desalojada de encanto
neste rio de água parada,
neste limbo de névoa magoada.


E neste barco sem destino...


Armanda Andrade - 12.07.2014

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