sexta-feira, 4 de julho de 2014

Há alturas...


Há alturas em que as noites surgem de repente e de repente ficam longas como se parassem o tempo e não houvesse mais nada. São espaços congelados...

Fico parada nesse tempo no meio dum silêncio atroante, aquele silêncio feito de gritos abafados, de coração encarcerado bem lá no âmago de mim, fecho os olhos, se eu não vir ninguém me verá... quero desaparecer nesse negro da noite, nesse manto de sombra, nessa sombra de Moloch que parece por vezes cobrir o mundo inteiro.

Estou farta de nadas, estou cheia de ausências, vazia de mortes. O silêncio que me esconde cola-se a mim, é a malha de aço, o esconderijo do lá-fora onde a luz do sol tem a cor de sangue.

Sinto a nostalgia dos espaços infinitos, do tempo em que eu não existia, do tempo em que pairava no escuro sideral como um grão da poeira de estrelas, fazia frio mas eu não sentia, e não sentia porque não sabia sequer que não existia...

São alturas suspensas, momentos não vividos, ilusão de quietude, uma paz maldita no fundo do desconhecido.

É a noite da alma, uma noite calada, prolongada, tanta noite!

Há alturas nas noites em que somos transportados para os espaços infinitos. São espaços presos numa eternidade temporária... 

E, quando vem a manhã, a gente finge que foi só sonho...

Armanda Andrade -  25.04.2010

"A vida é a eternidade que se manifesta em nós temporariamente ." (João Marcos - 25.04.1913 - 06.01.2005)

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