sorrateiras afastarem-se de mim
pouco a pouco.
Vou com elas. Assustadas e ligeiras
duas pombas. Voo cego. Voo louco.
Breve fim.
Cada qual para seu lado
vou com elas.
Inquietas. Voo cego. Atrasado
(também me afasto de mim).
Pouco a pouco morre a luz - a sombra nasce.
Novo fim. O começo dia a dia
(de tristeza? de alegria?)
Em cada dia a vida morre e a morte faz-se.
Da janela
vejo as coisas afastarem-ME de mim.
Não sou nada. Não sou começo nem fim.
Talvez apenas um traço
talvez apenas um zero no zero de cada dia
(nem sequer um risco baço
de tristeza ou de alegria).
(João Marcos, in "Versos do Fim do Dia" - Edições Ceres)
September tears
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