segunda-feira, 7 de julho de 2014

Lágrimas de sangue



Lágrimas de sangue não se vêem.
É por isso que eu choro lágrimas de sangue.
Na calada da noite, no lamento dos mochos
e quando bem ao longe, no horizonte,
ameaça a nova aurora, de esperança já exangue,
jorra o silêncio como num sorriso comediante.
Como sempre, nada de importante...
Pedaços de alma que já nada retêm.

Pássaros madrugadores saem dos seus nichos;
endireitam-se as pequenas flores silvestres.
A vida acorda com todo o vigor que têm
as coisas sem consciência dos mantos terrestres.

Nenhum espírito da natureza adivinha
as lágrimas de sangue desta dor tão minha.
Sangue escuro que se arrasta nas veias
em vasos emaranhados em tantas teias...!

Sou mais um vulto numa esterna escuridão
do mundo humano, tão falho de redenção.
É por isso que choro lágrimas de sangue,
abafadas e escondidas no meu peito
 - ninguém as vê, neste buraco de dor feito.
À minha volta tudo é dor e desespero,
gritos roucos abafados na almofada do leito,
assassinadas foram todas as ânsias do coração.

É por isso que choro lágrimas de sangue
Que escondem os últimos estertores
de um mecânico mecanismo de pulsão
de vida, sem que a vida se revolte e se zangue.
Grito lancinante carregado de tantas dores
lançado em flecha deste malfadado coração,
coração escondido e de todos oculto
pálido de cor, tornado sombrio vulto.

Todo o silêncio do mundo
encerra o grito mais profundo!

Sou só eu e as minhas lágrimas de sangue.

Armanda Andrade - 07.07.2014

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