terça-feira, 15 de julho de 2014

Quarto minguante



Está baixa hoje, a lua,

nesta quente noite de Junho.
Amarelo esbatido desmaiado na rua
nesta noite em que definho.

A madrugada silenciosa avança...
Céu lúgubre de desencanto.
Vai-se em murmúrios a esperança
e as ilusões, em sufocado canto:

          de versos não rimados
          de rimas desencontradas,
          de promessas anuladas...

Longa noite de lua vazia
tantas  longas noites depois!
-é um fio de lua que me estrangula o grito.
Despe-me do sentir, numa razia,
dilui-se comigo na escuridão;
disfarça-a, tomando-a como só sua.
Um esquisso de querer: Lua
desfalecida, leva-me contigo pela mão!
Eleva-me para longe desta desolada rua!
(Mas ela deita-se surda e indiferente
altiva e muda num horizonte aflito).
Ah, que noite imensa e tão quente!
Cobre-me o manto frio do desespero
limado, resignado: já nada espero.

É como acaba esta história:
festejam as trevas a vitória.

Definha lá fora a minguante lua
e cá dentro, minguam as memórias
daquele tempo em que eu era tua.

Cortante, no escuro silêncio, o grito dum mocho,
e alguns cães ladram nervosos à lua moribunda.
Mas agora, todavia, já não os oiço:
a minha alma dorme em morte profunda.

E o arco descendente desta lua fina
assombra sozinha a madrugada escura.
Nenhum sentimento mais me domina:
ao novo dia, fingirei de novo a liberdade pura.



Armanda Andrade - Junho de 2012

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