segunda-feira, 28 de julho de 2014

Festa de Haloween


          A mesa estava posta, a casa toda decorada. Na primeira, velas, velinhas em formas assustadoras espalhadas por entre as iguarias. Nos tectos e paredes, pululavam, entre balões negros e laranja, silhuetas em cartolina de figuras fantasmagóricas. Dei uma última olhadela em redor, satisfeita comigo própria, pois os meus convidados seriam recebidos como reis. Ou rainhas.

          Ou como feiticeiros, bruxas, múmias...

          Ei-los que chegam, a família Adams - a Mão ficou em casa de castigo -, Jack The Ripper, um assassinado ainda com a faca espetada no crânio, a Múmia enrolada em papel higiénico, o Zombie... De relance vi-me no espelho e sorri com o reflexo do meu aspecto de monstro surrealista: abominável!

          Perfeito.

          E as velinhas, dezenas de tealights espalhadas por todo o lado, emprestando o ansiado tom sobrenatural ao ambiente.

          Todos nos sentámos à mesa, abomináveis criaturas mas com boas maneiras e sorrisos brilhantes, comemos, bebemos, vozes de tertúlia animada, altas e entrelaçadas, palavras que se atropelavam sem contudo atrapalhar o trajecto dos talheres do prato para a boca e o ritmo dançante dos copos do vinho que ia aquecendo as gargantas. Só o meu cão, disfarçado de Lobo Mau, era o único que dormitava pacífico, até algo enfadado.

          Já era madrugada quando, no meio da animação das conversas soltas, descortino, atrás de uma amiga que se posicionara diante de mim, uma luz intensa, como que uma auréola... Já estava convencida da transformação divina quando, atrás de mim, uma voz tonitruou:

          FOGO!!!

          Abreviemos:

          A tal luz aureolada era afinal a chama de uma tealight em plena escalada de umas cortinas de linho!

          Foram gritos, foram correrias, foi um amigo que, na confusão, atirou o seu copo de whisky on the rocks para apagar as chamas... Eu disse apagar? As labaredas envolviam já a janela e a Costela de Adão, que se erguia orgulhosa e pujante até ao tecto, iluminava-se de fogo, as minhas cortinas de linho desapareciam na língua devoradora do fogo. E começaram a rebentar, por efeito do calor que irradiava, todos os balões suspensos que eu colara ao tecto. Qual metralhadora sincopada, qual fogo de artifício sinistro...

          Lembro-me dos vai-véns dos meus convivas, jarras de água lançadas pelo ar, as chamas a rirem-se do nosso pânico, de alguém a gritar-me "parece impossível, nem a malga do cão tem água!"... Aí reagi, corri para a cozinha, arrematei um garrafão cheio de água do Luso, voo de volta para a sala, passo por alguém que pisava a ponta do vestido da matriarca da Família Adams, e pláaaaaaash, foi uma cortina de água a engolir a moldura de fogo!

          Água pura, do Luso, garrafão de cinco litros!...

          Eu cá sou assim: quando dou uma festa, é mesmo a sério! Esta, foi a de Halloween.

          Para a próxima, estou a pensar fazer um jantar árabe. Estou apenas à espera da resposta do Bin Laden, que será o convidado de honra. Essa será bombástica!


                            Armanda Andrade - Setembro de 2010


       

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