domingo, 13 de julho de 2014

Dizem que é para meu bem...



Dizem que é para meu bem que me governam; ora, como dou o meu dinheiro para ser governado, depreende-se que é para meu bem que o dou, o que é possível, mas que merece, contudo, ser verificado.

Além de, por outro lado, ninguém poder conhecer melhor que eu, as coisas que me fazem feliz, penso que é estranho, incompreensível, anti-natural, extra-humano, devotarem-se à felicidade de pessoas que não conhecem; e eu declaro que não tenho a honra de ser conhecido pelos homens que me governam...
É justo dizer desde já, no meu ponto de vista que eles são verdadeiramente bons e, enfim, um pouco indiscretos por se preocuparem com a minha felicidade e principalmente, porque não está provado que eu não seja capaz de a conseguir eu mesmo.

Mais afirmo que a devoção implica o desinteresse, e que os cuidados oficiais não têm o direito de ser incómodos senão com a condição de nada custarem...
Eu sou demasiadamente bem educado para discutir aqui uma questão de dinheiro e guarde-me Deus de pôr em causa a devoção e por outro lado o desinteresse dos nossos homens de Estado. Contudo, peço autorização para aguardar e lhes poder exprimir a minha gratidão, desejando ao mesmo tempo que as delicadas atenções com que se dignam envolver-me sejam mais baratas.


Toulouse, 1848

Anselme Bellegarrigue

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